segunda-feira, novembro 11, 2002

Mesa de gerentes por Eduardo Joly

Gritou mais uma vitória. Seu time ganhara. Não, ele ganhara. Fora um campeonato difícil. Mas finalmente ganharam. Saiu à rua, gritou a todos que era campeão. Era preciso comemorar. No dia seguinte, seguiria feliz para o emprego. Camisa do time, suada e surrada. Indústria, vestiário, uniforme. Aquele emprego caíra do céu. Seis meses sem a alegria de poder levantar cedo e ir trabalhar. Não era muito. Tinha amigos que já se esqueceram a quanto tempo não trabalhavam. Ele agora tinha um emprego. No refeitório, todos almoçavam juntos. Gerentes, serventes, arrumadores, montadores, todos. Maneira prática de igualdade. Na mesa ao lado, eram de outro time. Insatisfeitos pediam um novo jogo. Xingam jogadores. Torcedores e juizes. Não agüenta. Seu time fora campeão. Ele fora campeão com todos os méritos em questão. Nenhum merdinha falaria assim no seu dia de glória. O garfo voa rápido. Alvo errado. Mesa de gerentes. Tempos difíceis. Cortes de empregados. Justificativa: não há dinheiro para sustentar a todos. Vai para casa. No ônibus, protesta em silêncio. Paga a passagem e observa. São Paulo, 19h23. E o menino corre com a bola em direção à duas pedras. Seu grito de gol não tem time. É dele e não tem time.